Não há nada melhor que uma escapadinha de 2 dias e sem programa definido além de ir a uma
exposição de fotografia.
Quinta-Feira, 25 de JunhoPlaneamos sair pelo fresquinho da manhã para não repetirmos a proeza de estarmos a caminho de Mértola em plena hora de ponta para um calor abrasador. Desta vez o tempo ajudou e a viagem de carro foi bem mais agradável. Transpor a ponte Vasco da Gama é sempre um prazer renovado. Quase tida como um portal para outros mundos, os conhecidos e dos quais guardamos as melhores recordações e os desconhecidos ainda por desvendar.
Mas no que toca a esta viagem, são quilómetros e quilómetros de campos ondulantes de amarelo, preenchidos de girassóis que são o rosto da paisagem alentejana.
Descendo um pouco mais em direcção ao Baixo Alentejo, avistamos os montes agrícolas outrora vivos que, agora abandonados, vestem as cores da desolação.
Quem olha não deixa contudo de sentir-se inebriado com a paisagem agreste talhada pelos elementos naturais e pelo silêncio que lhe confere uma beleza sem igual.
Seguimos como que ao longo de um estreito guardado a preceito por cegonhas do alto dos seus ninhos construídos ou ali colocados.
Mértola, vila-museu sobranceira ao Guadiana, eis-nos chegados ao nosso destino.
Mas antes de continuar é tempo de revigorar forças e parar para almoçar. Sentadas no Restaurante
O Repucho, entre garfadas decidimos que, findo o repasto, subiríamos ao Castelo que avistávamos da esplanada.
Subimos ao longo de ruas estreitas, ornadas de casinhas rasteiras caiadas, aninhadas na muralha que abraça a pacata vila outrora grandiosa pela sua importância comercial.
Deteve-nos a invulgar – dada a sua estrutura quase quadrangular – Igreja Matriz, de origens mouras. Conserva da sua estrutura inicial o
mirhab (altar árabe voltado a nascente) e as portas com arcos em ferradura.
Reiniciamos a subida em direcção ao Castelo. Não demoramos em chegar. Aos pés deste desenrolam-se escavações arqueológicas que nos revelam indícios da ocupação romana e árabe da cidadela.
Ao subir até à muralha lembro-me de achar louvável o esforço feito no sentido da preservação da edificação, mas utilizar mármore branco nas escadas e cimento? Qualquer que seja o fundamento, a sua utilização peca por não se enquadrar no conjunto, agredindo a sensibilidade de quem olha.
Deixámos Mértola e seguimos para Moreanes. Tranquilo, um punhado de casas a alguns quilómetros de distância.
Recuperado o fôlego fomos jantar. Não no Restaurante
Alentejo que aparece em todos os roteiros turísticos, mas no Restaurante
Pires onde desfrutamos das especialidades alentejanas.
Sobre a exposição fotográfica – motivo da nossa vinda a Moreanes, não há palavras que descrevam o turbilhão de sensações despertadas. As duas imagens do cartaz, centrais na exposição, resumem a intenção do fotógrafo que procura materializar a perda e o que ela representa. Uma parede despida, carcomida pelo tempo e pelos elementos. No lado oposto, a mesma parede, preenchida por uma cadeira (que adoro) e demais objectos que procuram encher o vazio.
O passado tomou depois conta da conversa naquela esplanada à beira da água. Entre emoções, foi sem esforço que nos rendemos ao cansaço e ao fresco da noite, decretando o fim daquele dia.
Sexta-Feira, 26 de JunhoO dia amanhece soalheiro e para não perdermos muito tempo, despachamos o pequeno-almoço com torradas em pão alentejano. Delicioso como só no Alentejo, onde um dia já se moeu e já se fez muito pão, a julgar pelos moinhos em ruínas.
Saímos em direcção à praia fluvial da Tapada Grande em São Domingos decididas a aproveitar o sol e a água, depois de vários improvisos.
Deixámos, relutantes, aquela piscina natural, a calma só possível em Junho, com a falta dos habituais veraneantes que ainda não passam por ali férias.
Cerca de alguns quilómetros à frente, que é como quem diz logo ali ao lado, estão as ruínas da Mina de São Domingos. A mina que foi um dia uma das mais importantes explorações de minério da Península Ibérica e de onde partiam, no século XIX, milhares de toneladas de pirite, a mina que está hoje voltada ao abandono.
E como o que é bom acaba depressa, quando voltamos à realidade estava na hora de regressar a Lisboa. Esticámos o quanto conseguimos aquele dia e quando encetamos a nossa viagem era já noite cerrada. Entre despedidas, ficou a promessa de voltar uma e outra vez.