6.3.09

Recorte de Jornal [2]

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“Descontar mais, receber menos ou trabalhar mais” são as opções que se colocam aos trabalhadores portugueses, afirmou o ex-ministro da Segurança Social, António Bagão Félix, acrescentando que “há sempre hipótese de fazer poupanças complementares e renunciar ao consumo”. Para o ex-ministro, esta é a consequência das alterações ao cálculo das pensões feita ao longo dos últimos anos. “Nos últimos 16 anos, a fórmula de cálculo das pensões já foi alterada quatro vezes, sempre no sentido da descida” do valor das reformas, lembrou Bagão Félix. (in Meia Hora)

Descontar mais – mais ainda?
Todos os meses é-me descontado um valor por conta da inscrição num sistema de protecção social (que não pedi mas disseram-me ser obrigatório) que irá garantir o pagamento de uma pensão que vou receber por conta de 40 anos de trabalho, isto se entretanto não decidirem prolongar ainda mais o início da idade da reforma.
Se fizer umas contas rápidas de merceeiro (aviso já que não sou muito boa a fazer contas de cabeça), se descontar 150€/mês (considerando já um valor superior ao actual) durante 40 anos, ou seja 480 meses, contas redondas isto dá um total de 72.000€.
Se colocasse os €€ debaixo do colchão, este seria o valor que teria ao fim destes anos todos. Pensando que ainda tenho 15 anos para curtir a minha reforma (na melhor das hipóteses!), como é que se vive com 400€/mês e tendo qualidade de vida?
Se, por outro lado, colocasse os €€ num PPR, tenho a certeza que iria conseguir rentabilizar muito mais este valor, não fossem 40 anos de entregas.
Para todos os efeitos, este parece ser o valor que vou perder! As últimas projecções do Governo indicam que até 2039 há dinheiro para pagar as pensões, mas que a partir daquela data nada está garantido.
Se não há garantias, porque temos de continuar a fazer descontos e pior, a descontar mais?
Receber menos – menos ainda?
Conhecidos como sendo os mais mal pagos da UE (estou a falar de quem trabalha e não de dirigentes), como é possível pedir aos portugueses para receberem menos ainda do que recebem actualmente? Não conheço os números, mas devem ser muitos os que sobrevivem apenas com o salário mínimo e outros com um pouco mais acima deste valor. Como é possível dizer a estes que vão passar a receber menos ainda?
Os que têm a sorte de ainda não terem perdido o emprego não param de fazer contas de sumir para esticar os €€ que por si já são curtos para alimentar as contas que não param de crescer. Com a crise perdem-se benefícios e extras por conta da conjuntura e muitos vêm o aumento dos seus salários congelado. Como é possível recebermos menos apenas para assegurar uma pensão que não está garantida à partida?
Trabalhar mais – mais ainda?
O português, regra geral, gosta de trabalhar. Mas a questão não é essa, a questão é que muitas vezes não é reconhecido monetariamente pelo seu trabalho, como é que se pede a alguém nestas condições para trabalhar mais? Pedem-se mais horas que depois são convertidas em folgas e não em €€ como seria desejável. Trabalhar mais para descontar mais e não para receber mais apenas gera mais desânimo e desmotivação laboral.
Trabalhar mais significa também passar menos tempo com a família e consigo mesmo. Como é possível manter a sanidade mental nestas condições?

Por último, Bagão Félix, lembra que há sempre a possibilidade de poupar. Poupar?
Se vamos descontar mais, receber menos e trabalhar mais para receber o mesmo, como é possível poupar? Não podemos cortar no básico! Ou melhor, não gostaríamos! Mas esta semana, num outro recorte de jornal, era 1ª página que muitas famílias já não estão a conseguir sequer cumprir o pagamento das facturas da água, da electricidade ou de gás. Estamos a falar de cumprir os pagamentos essenciais já nem falando de cumprir o pagamento de outros bens.
O mal já está feito! Pedir aos portugueses para renunciarem ao consumo é fazer campanha tarde demais. Durante anos foram concedidos créditos ao consumo por bancos e financeiras sem qualquer tipo de limitação além de não haver uma folha de vencimento para apresentar. Muitos foram os que viveram uma ilusão confortável alimentada pelo consumismo desenfreado. Atingidos subitamente pela realidade de uma taxa de juro que não parava de subir e que só parou quando se decretou oficial a Crise. Com esta começaram a sentir a pressão do desemprego ou da alteração dos rendimentos e do endividamento excessivo.
Hoje pedem ajuda. Mas hoje já não há muito a fazer a não ser tentar renegociar uma ilusão que deixou um sabor amargo e que não vamos esquecer tão cedo...

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